O espetáculo teatral Sade em Sodoma é uma adaptação do livro homônimo de Fabio Braga, onde o autor faz a releitura do romance de Sade “120 dias de Sodoma.”
Quem já conhece obra de Sade[i] sabe que a narrativa é repleta de perversões, escatologia e sangue, mas o diretor da teatral Ivan Sugahara resolveu ilustrar o espetáculo de maneira diferente. Ao invés de mostrar cenas de sexo e morte ele optou por contar as atrocidades que aconteceram em Silling[ii] e representar o sangue e a merda através do uso da comida em cena, enquanto a personagem Madame Duclos fala sobre Coprofilia[iii] o elenco de apoio serve bolinhos de chocolate.
Durante a apresentação, na Caixa Cultural em Brasília, o público reagiu de diversas formas. Algumas aceitaram a comida escatológica, já outras reagiram com asco e saíram antes do fim do espetáculo.
As pessoas estão acostumadas a ver sexo, morte e pedofilia todos os dias no cinema, na televisão na web e em outros meios de comunicação, entretanto não conseguem ouvir sobre o assunto, ao ouvirem as narrativas de Sade em conjunto com a representação dos atores o publico se choca e sai da sala.A falsa moral do século XXI nos remete ao escritor surrealista Geoges Bataille:
“Para os outros, universo parece honesto. Parece honesto para pessoas de bem porque elas têm olhos castrados. É por isso que temem a obscenidade (...). Em geral apreciam os prazeres da carne na condição de que sejam insossos”.
Segundo o diretor Ivan Sugahara é fácil fazer um contraponto entre Sodoma e consumismo atual. Uma ânsia que nos faz querer sempre mais comer mais, fazer mais sexo, comprar mais,...porque nunca preencheremos o vazio existencial dessa forma. Em meio a tantos desejos vazios impostos por nossa sociedade contemporânea já não sabemos mais o que desejar e nessa infinda busca pelo novo acabamos por desejar atrocidades.
Por
Kacau Rodrigues e Clarissa Trein
[i] Donatien Alphonse François de Sade, o marquês de Sade foi um aristocrata fracês ,escritor e lobertino.
[ii] A narrativa dos 120 é Ambientado no castelo de Silling, na França do século XVIII.
[iii] O indivíduo excita-se e obtém prazer através do contato com excrementos ou inalação de seu cheiro.Quando a estimulação erótica se dá através do cheiro da urina, pode ser chamada de renifleurismo; se a urina for ingerida, chama-se urofilia.
